(PT) Quando conheci o João Vasconcelos
Tenho de dizer alguma coisa sobre isto
Vou repescar esta história e é a primeira vez que exponho assim. Neste caso, exponho como conheci, como me inspirei e como resultou o meu pequeno e curto contacto com o João Vasconcelos.
3 de Novembro de 2014, às 20h57
Boa noite,
No seguimento da nossa conversa após o evento “bridges” que decorreu na Culturgest no passado dia 30 de Outubro, venho por este meio então oficializar o convite para um evento de divulgação que decorrerá na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Sobre o evento:
A data equacionada será a manhã de dia 13 de Fevereiro de 2015, Sexta-feira, das 9h às 13h (a confirmar).
Parceiros até à data: Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da UL; Tec-Labs; Núcleo de Estudantes de Biologia da UL; Gabinete de Transferência e Empreendedorismo da Faculdade de Ciências da UL.
Restantes oradores: Tec-Labs; Gabinete de Transferência e Empreendedorismo da Faculdade de Ciências da UL (a confirmar); Prof. Dr. António Sampaio da Nóvoa (a confirmar).
Desta maneira pergunto pela sua disponibilidade para estar presente como orador no evento de dia 13 de Fev de 2015. Mais, caso não lhe seja possível a data em cima referida, podem ser tidas em conta as seguintes datas: 6/2/15 ou 9/2/15.
Aguardo ansiosamente a sua resposta
Muito obrigado pela disponibilidade
Não hesite em contactar
Sem mais
Com os cumprimentos || Kind regards
Cristiano Roussado, Estudante de MSc Microbiologia IST
A resposta não tardou. Alguns dias passaram e…
7 de Novembro de 2014, às 15h29
Viva
Obrigado pelo convite.
Confirmo a minha presença-
Abraço
João Vasconcelos, Diretor Executivo Startup Lisboa
O evento esteve quase para não acontecer no dia previsto, o João Vasconcelos não chegou a ser orador, etc, etc, entre outros imprevistos. Quem já fez ou organizou algo que envolveu agendas de outras pessoas sabe como é. Sabe que os imprevistos vão definir melhor o que vai acontecer do que propriamente a ideia inicial. Mas vamos a um pouco de contexto.
A motivação para o convite
O que motivou o convite imediato para o João Vasoncelos como orador para um evento que não passava de uma ideia baseou-se praticamente em duas frases ditas durante a sua intervenção no dito evento “bridges”. Não me recordo da restante intervenção mas lembro-me de ter ficado cheio de garra quando terminou, algo que aconteceu imenso durante aqueles dois anos do mestrado. As frases foram:
- Quando me convidam para falar em faculdades e para estudantes, começo sempre por perguntar uma coisa que é: “Quem de vocês é que tem sonhos?”. E muito envergonhadamente lá uns levantam os braços. Dependendo das faculdades, uns mais que outros, é normal. Depois faço a seguinte afirmação: “Os que não levantaram o braço vão trabalhar para os que levantaram.”
- Nunca falei na Faculdade de Ciências. Não sei porquê. Em Lisboa já falei em todas [as faculdades], mas lá não. Já falei em muitas outras noutros lados, mas na Faculdade de Ciências não.
A segunda frase
A segunda frase atingiu-me que nem um raio! Eu que tinha saído da Faculdade de Ciências licenciado e entrado no Instituto Superior Técnico (IST) para um recém-criado curso de mestrado em Microbiologia
— o curso não era do IST, mas sim da Universidade de Lisboa, por estarem outras Faculdades envolvidas: uma delas a Faculdade de Ciências, as restantes eram a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Medicina Veterinária; mas naquele ano, o curso tinha a administração do IST, daí a referência —
Eu que sentia que algo de dinâmico estava a acontecer em Portugal, e que ia ser grande, ia ser falado e ia colocar Portugal nas bocas do mundo (aka empreendedorismo). Eu que começava a sonhar ir mais longe, pelas aulas inspiradoras de empreendedorismo da Prof. Helena Vieira. Eu que tinha começado definitivamente (e para não mudar nunca mais) a ser disciplinado no estudo e no trabalho no IST com a Prof. Sá Correia, o Prof. Miguel Teixeira, o Prof. Jorge Leitão, o Prof. Nuno Mira, etc… Eu que me revia naquilo que o Miguel Gonçalves da Spark estava a começar a dizer bem alto. Eu que tinha deixado para trás anos complicados na Faculdade de Ciências, onde lutei muito para me motivar e perceber o que queria ser e aprofundar dali em diante (principalmente quando saísse, se chegasse a sair…). Aquilo atingiu-me que nem um raio. Não tinha um evento, tinha algumas horas de conversa com o Zé Pedro sobre o assunto, mas passei a ter um evento, com um orador e tudo! Após aquela frase, o João Vasconcelos não poderia rejeitar. E não rejeitou. A foto da capa foi a forma que ele encontrou de fixar o momento: a primeiríssima vez que ia falar à Faculdade de Ciências!
Por curiosidade, quem tirou a foto foi a diretora do Jornal Público da altura, hoje redatora principal, Bárbara Reis. Nunca me tinha sentido tão formal e visivelmente importante! Guardei a foto com carinho (e como prova que tinha mesmo apertado a mão ao João Vasconcelos! =D).
Foi impressionante. As coisas estavam a acontecer. Como disse, passei a ter um evento, e, como tal, passei a ter de o organizar. De imediato contactei o Zé Pedro, que me deu a resposta de sempre: “Vamos a isso! De que precisas?”. Contactou-se a Direção da Faculdade, e todos os orgãos sociais e departamentos. Contactou-se a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências e em consequência disso percebi que o João Faria ia longe. Contactou-se o Gabinete de Empreendedorismo e Transferência de Conhecimento da mesma faculdade, primeiro por ser o ‘gabinete’ mais parecido com a visão que estávamos a criar — uma ponte entre a academia e a sociedade: demo-lhes o nome de 2uSofia (to you sofia = para ti conhecimento). Tudo foi acontecendo desse modo. Precisávamos de mais oradores, e como tinha estado recentemente a ouvir uma conferência no antigo e agora extinto Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa entre o Prof. Dr. António Sampaio da Nóvoa e o Prof. Dr. João Lobo Antunes, lembrei-me de enviar também um convite formal ao primeiro. Hoje sei que deveria ter convidado também o segundo… (e acabei por ir desenvolver a tese de mestrado no instituto que recebeu o seu nome um par de anos depois de lá sair em 2015; foi uma bonita e significante homenagem — Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes).
O Prof. Dr. António Sampaio da Nóvoa demorou 10 minutos a aceitar. As coisas estavam a tomar forma. E eu cada vez mais acreditava. Aliás, ainda hoje estou cada vez a acreditar mais, como se de uma onda gigante se tratasse e eu estivesse a surfá-la dignamente, a conseguir surfá-la dignamente. E hoje, conseguir fazê-lo, devesse muito em parte àquele momento. Foi dos primeiros sabores a vitória que tive, pelo menos de forma tão visível e exposta. Podemos crescer nas derrotas, mas nada nos faz crescer mais que as vitórias. Se as derrotas nos fazem mais fortes, as vitórias fazem-nos maiores. Assim, tanto umas como as outras fazem-nos perder menos, ao mesmo tempo que nos fazem crescer. Mais concretamente, fazem-nos perder menos da mesma maneira. Só uma inevitabilidade nos faz cometer duas vezes o mesmo erro.
Para concluir, e a remate do contexto geral, quando saí da Faculdade de Ciências em Julho de 2013 estava de costas voltadas com a instituição. Foi assim, neste contexto particular, que senti a segunda frase.
A primeira frase
A primeira frase definiu aquilo que foi o meu início de luta mais acesa e dinâmica por ser uma pessoa melhor, um profissional a sério e por criar em Portugal um lugar para pessoas como aquela que estava a ver nascer em mim. Tudo aquilo que comecei a construir naquela altura teve como alicerce aquele raciocínio feroz do João Vasconcelos. Abracei aquela agressividade como minha, porque a sentia, mas sobretudo porque me fui apercebendo que num país de interesses vários e conservadorismos alheios, a agressividade é ferramenta fundamental, se não for a única, para se atingir algo — seja o que for. Num país dos mesmos, a mudança é inimiga de todos esses interesses instalados. Assumi, quase em forma de preconceito, que o empreendedorismo em Portugal significaria a chance que eu teria de ser alguém.
Empreendedorismo em conceito, não somente a criação de empresas. A criação de empresas é algo muito concreto e redutor dentro do conceito amplo de empreendedorismo.
Eu e todos os outros fora dos interesses instalados e dos conservadorismos alheios. Sou filho da Paula e do Sérgio e não do conde viscaia nem da senhorita redondela. Uso estes termos para não ferir qualquer suscetibilidade. O empreendedorismo foi a forma que a revolta tomou em mim.
O empreendedorismo foi a minha revolta pacífica — agressiva na forma de se expressar mas não na de se comportar — para construir um Portugal melhor para todos sem exceção, mais ético, mais responsável, democrático, livre, transparente, melhor. Contudo, do empreendedorismo associei-me à primeira parte da sua definição, cuja totalidade ainda hoje desconheço, principalmente por falta de experiência e dedicação à sua reflexão concreta. E a primeira parte dessa definição é a de Explorador. E porquê?
- Por ser português e pelas raízes históricas que Portugal tem com o conceito
- Por ter visto a primeira luz de inspiração no evento “Explorers Festival” em 2013
- Por ter uma necessidade constante e cíclica de explorar coisas que me são novas (experimentando e estudando)
Daí em diante, e sempre que consegui ver e ter a oportunidade, chamo àquilo que faço de exploração — sou explorer.
Óbvio que não concordo com a crítica explícita aos jovens que não levantaram o braço, contudo concordo totalmente com a que lhe está implícita. Isto é, se jogamos o jogo, seremos alvo das suas regras, e como por exemplo na lei, não se pode alegar desconhecimento da lei como ilibação do seu incomprimento. Aqui, e na vida, é a mesma coisa, se não lutarmos pelos nossos sonhos, acabaremos a lutar pelos sonhos dos outros, e creio que ninguém ambiciona isso para si próprio. Para além de que duvido muito se alguém ambiciona isso para uma filha ou filho. Mas cada coisa a seu tempo. A seu tempo lá chegaremos… (in processing in other stories…).
O evento e o depois
O evento aconteceu com a Direção da Faculdade na pessoa do Prof. Dr. Jorge Maia Alves, com a Associação de Estudantes na pessoa do Bruno Coucello, com o Tec-Labs na pessoa do Bruno Santos Amaro e ainda apareceram cerca de 20 pessoas das mais de 50 inscritas (cartaz 2, programa). O Prof. Dr. António Sampaio da Nóvoa fez as honras de encerrar o evento. O João Vasconcelos não pôde comparecer, mas fez-se representar muito bem pelo Filipe Castro Matos. Duas pessoas ligadas ao Gabinete de Empreendedorismo e ao Conselho Pedagógico apareceram algures perto do fim do evento para espreitar de que tipo de evento se tratava (sem nunca terem respondido a qualquer tentativa de contacto da organização…). Ao verem que o Prof. Dr. António Sampaio da Nóvoa estava na sala, retiraram-se, sendo somente vistos pelo orador que estava no palco no momento, eu. À excessão do Prof. Jorge Maia Alves, mais ninguém dos órgãos sociais da faculdade apareceu, apesar de todos terem sido convidados.
Criou-se um blog em que se convidavam jovens a escrever os seus pensamentos sobre algo da sociedade civil. De certa forma rapidamente, o blog alcançou mais de 1000 visualizações de todos os continentes. Parei o blog porque me ocupava bastante tempo a convidar jovens a escreverem peças. Na minha opinião foi um sucesso que exigiu persistência.
Criou-se uma página de facebook para publicações de ativação rotineiras. Não tenho sequer opinião sobre como avaliar a página. Era o que era.
Ora, o evento não foi nenhum WebSummit, que logo à primeira tentativa conseguiu 400 pessoas numa sala. Mas, sempre terei para mim que foi uma das primeiras pedras no charco da Faculdade de Ciências. Para mim, isso vale muito. Para mim foi um sucesso!
2009–2011
Dublin Web Summit 2011
The first Web Summit was a mix of bloggers, journalists and technologists in a hotel on the outskirts of Dublin. Panelists and speakers included Iain Dale, the political blogger, Ben Hammersley of the Guardian and Ian Douglas of the Daily Telegraph. In 2010 it was a meet-up for 400 or so of the local technology community in the Chartered Accountants House in Dublin. Speakers were mainly local entrepreneurs, business people, and investors. In 2011, the event tripled in size and moved to the Royal Dublin Society. Speakers included Chad Hurley, Jack Dorsey and Matt Mullenweg.
Em suma e em jeito de conclusão…
Soube da notícia ao entrar no avião para Londres, na terça-feira 26 de Março, pelas 13h e picos. Quem ma disse foi o Zé Pedro, numa mensagem breve e brusca. Fiquei alguns minutos a olhar para o telemóvel.
O João Vasconcelos partiu cedo demais e de uma forma inesperada. Ninguém poderá ficar neutro perante esse facto, e Portugal sem dúvida ficará a perder. MAS, o impacto que acredito que o João Vasconcelos teve pelos que o conheceram é grande e estará para sempre presente — disso tenho a certeza. Em mim, moldou-me e contribuiu em muito na formação daquilo que sou hoje, um explorador e empreendedor em constante formação.
Muito obrigado João
Até Sempre
Relatos de Portugal em português. são míseros esboços dum qotidiano tão singular e único como qualquer outro. num país qe vive esquecido. dum país qe prospera e desespera. qe permanece sereno num passado arrastado. qe espera voltar a ser o qe era outrora se outrora esperar. ora em diante fora de contexto. mares e terras e pobres e descalços e batidos e (des)sonhos. Tento resgatar o modernismo na forma de viver, qe é na expressão qe mais nos damos à existência.
Cristiano Pedroso-Roussado — https://cmpr-portfolio.weebly.com/